O Pix é hoje o método de pagamento mais popular do Brasil. Mais de 170 milhões de pessoas, entre consumidores e empresas, já realizaram transações pela plataforma.
Somente em agosto de 2025, o sistema movimentou cerca de R$ 3 trilhões, em quase 7 bilhões de operações. À medida que cresce, o Pix também evolui em segurança e maturidade regulatória.
A mais recente atualização do Banco Central, publicada em 28 de agosto de 2025 pela Resolução nº 4.493, trouxe o novo botão de contestação de fraude — parte do chamado MED 2.0 (Mecanismo Especial de Devolução), que é uma evolução do MED, criado em 2021.
A funcionalidade, que agora integra o próprio ambiente do Pix nos aplicativos dos bancos, permite que o usuário conteste uma transação suspeita de forma simples e totalmente digital. O objetivo é facilitar a recuperação, total ou parcial, de valores transferidos.
O botão de contestação vale tanto para pessoas físicas quanto pessoas jurídicas, mas somente em casos de golpes, fraudes ou coerção. Ou seja, não se aplica a casos de erros de digitação na chave Pix, desacordo comercial ou arrependimento de transações realizadas com terceiros de boa-fé.
Segundo o BC, o fato de os consumidores não precisarem mais entrar em contato com as centrais de atendimento das instituições financeiras para contestar uma transação torna o processo de combate às fraudes mais ágil e eficiente.
O MED 2.0 vem para reforçar a segurança do Pix e ampliar a confiança de consumidores e lojistas no método de pagamento mais usado do país.
O que muda com o MED 2.0 e o novo botão de contestação?
Com o MED 2.0 e o novo botão de contestação, três pontos principais mudaram: a forma de acionar o recurso, o bloqueio em cadeia e o prazo ampliado para análise.
Juntas, essas melhorias tornam o processo mais eficaz no combate às fraudes e fortalecem a rastreabilidade dos valores, aumentando as chances de o dinheiro transferido ainda estar disponível na conta do possível fraudador para viabilizar a devolução para a vítima.
Vamos por partes.
A partir de 1º de outubro de 2025, passou a ser obrigatória a existência de um canal digital dentro dos aplicativos dos bancos para contestação de transações. Embora muitos já oferecessem essa função, agora ela é exigida em todas as instituições participantes do sistema Pix.
No modelo original do MED, a contestação dependia do contato direto com a central do banco, um processo mais demorado que reduzia as chances de recuperação do valor, já que aumentava o tempo que o golpista tinha para passar o montante adiante.
O segundo avanço da funcionalidade tem relação justamente com o bloqueio em cadeia. Anteriormente, apenas a conta que recebia o valor era bloqueada; agora, o sistema consegue rastrear e bloquear também as transferências subsequentes, dificultando a dispersão do dinheiro.
Na prática, se o golpista repassar o valor a outras contas, o bloqueio se estende automaticamente a elas, facilitando o rastreamento dos recursos. Isso é possível porque as contas suspeitas são marcadas no Diretório de Contas do Banco Central (DICT) e passam a ser monitoradas por todo o sistema financeiro.
Por exemplo: o João caiu em um golpe de engenharia social — quando alguém se passa por outra pessoa e convence o usuário a fazer uma transferência para um golpista — e acabou enviando R$ 1.000.
O fraudador, por sua vez, recebeu o valor em sua conta e rapidamente repassou para a Maria, que tem conta em outro banco.
Com o MED 2.0, assim que o João registra a contestação do Pix enviado, o banco do possível golpista é notificado. A instituição analisa a transação, identifica a suspeita de fraude e comunica o banco que recebeu o repasse.
Ao ser alertado, o banco da Maria verifica que o dinheiro veio de uma conta suspeita e bloqueia o valor preventivamente, caso ainda exista saldo. Valores parciais também podem ser bloqueados.
Mesmo que o recebedor, como no exemplo da Maria, não tenha qualquer envolvimento com o golpe, sendo, por exemplo, uma prestadora de serviço que recebeu um pagamento legítimo, pode haver um bloqueio cautelar em situações excepcionais, até que seja concluída a análise sobre a origem dos recursos.
Se o banco constatar que ela é uma recebedora de boa-fé, o valor é rapidamente desbloqueado e permanece em sua conta, mesmo que a fraude original seja confirmada.
De acordo com o Manual Operacional do MED, os bloqueios ocorrem apenas em contas que façam parte de potenciais caminhos de fraude, identificados por meio de um mapeamento inteligente e dinâmico do fluxo financeiro.
Podemos pensar nesse processo como uma árvore que segue o rastro do dinheiro: cada ramificação é analisada e, quando um nó é considerado suspeito, o valor é bloqueado. Mas, se for constatado que determinado nó (como a conta da Maria) não tem relação com o golpe, o valor é imediatamente liberado.
Na prática, o bloqueio temporário em contas de terceiros de boa-fé é altamente improvável. O desenho do MED 2.0 foi justamente aprimorado para evitar bloqueios desnecessários, preservando a segurança do sistema sem comprometer a previsibilidade e a confiança de quem recebe via Pix.
A terceira mudança do MED 2.0 diz respeito ao prazo ampliado para a análise da transferência.
Depois do bloqueio, as instituições financeiras envolvidas têm até sete dias para analisar a contestação. Uma vez constatado que o recebedor é de má-fé, o valor é devolvido à conta de origem — desde que haja saldo disponível — em até 11 dias após a contestação inicial.
Vale reforçar que o MED 2.0 não garante a devolução dos valores: em alguns casos, pode ocorrer uma devolução parcial ou até mesmo nenhuma devolução. O que ele oferece é um mecanismo mais robusto e refinado, que aumenta significativamente as chances de recuperação total dos valores, fortalecendo tanto a proteção às vítimas quanto a credibilidade do sistema de pagamentos.
Como contestar um Pix?
Apesar do MED existir desde 2021, ele ainda é pouco conhecido. Segundo matéria divulgada no Finsiders Brasil, uma das maiores fontes de informação sobre o mercado de fintechs no país, 5% das vítimas de golpes com Pix sabem usar o recurso, e 68% nunca ouviram falar dele. Já os outros 27% até conhecem sua existência, mas não sabem exatamente como ele funciona.
Ainda segundo a publicação, em 2023 o BC recebeu 2,5 milhões de pedidos de devolução, o que representa menos de 0,01% das transações via Pix no ano.
Na prática, para contestar um Pix, basta acessar o aplicativo do banco, ir até a área Pix, entrar em detalhes do Pix, localizar a transação no extrato ou no histórico e procurar o botão “Contestar Pix” ou “Solicitar Devolução (MED)”.
Basta seguir as instruções, selecionar o motivo da fraude e anexar evidências, se possível. Assim que o pedido é feito, o banco irá notificar a instituição do recebedor para bloquear os valores.
O prazo para a vítima contestar um Pix é de até 80 dias após a transação. No entanto, quanto mais rápido o pedido de contestação for feito, maiores as chances de recuperar o valor.
É importante lembrar que, ao contestar uma transação, a vítima está declarando que o recebedor é uma pessoa fraudadora. Caso isso não seja verdade, ela pode estar cometendo falso reporte, algo que o Banco Central e as instituições financeiras monitoram de perto.
Por que não é possível contestar um Pix por desacordo comercial?
Não é possível contestar um Pix por desacordo comercial porque o MED é destinado apenas a fraudes, golpes e coerção, e não a disputas entre compradores e vendedores. Em outras palavras, não é um mecanismo para reverter compras por arrependimento ou insatisfação com um produto ou serviço.
Além disso, o Pix foi desenhado para garantir que quem recebe o valor tenha a segurança de que o pagamento é final e irreversível, salvo em casos de fraude comprovada.
O MED é como se fosse uma exceção, não a regra.
Se ele abre brecha para contestar transações por desacordo comercial, por exemplo, lojistas deixariam de ver vantagem em aceitar o Pix, já que perderiam a certeza do pagamento.
Essas disputas são comuns no cartão de crédito, que possui um mecanismo específico para isso: o chargeback.
Nesse modelo, as bandeiras cobram taxas das adquirentes por cada contestação, já que o processo exige análise detalhada de provas, como notas fiscais, comprovantes de entrega, trocas de e-mails etc.
No caso do Pix, esse tipo de análise seria inviável. O banco não tem como arbitrar quem tem razão em cada disputa — por exemplo, decidir se “o produto era de cerâmica e veio de plástico”.
Pix versus cartão de crédito: por que o tempo de estorno do valor é diferente?
No cartão, o estorno costuma ser rápido: em alguns casos, o estorno é processado em até 24 horas após a confirmação do cancelamento pelo estabelecimento. No entanto, vale lembrar que essa devolução costuma ser provisória — o banco pode retirar o valor da conta se o lojista comprovar que a compra foi legítima.
O lojista tem um prazo de, geralmente, 14 dias para apresentar sua defesa. Além disso, o Código de Defesa do Consumidor prevê a regra do arrependimento em compras não presenciais, com direito a cancelamento em até sete dias.
Já o Pix funciona de forma diferente porque não é um meio de crédito, e sim de pagamento instantâneo.
Isso significa que o dinheiro sai da conta do pagador e chega ao recebedor em segundos, sem a intermediação de uma bandeira ou operadora que possa suspender ou reter o valor.
Por isso, não há estorno automático: a devolução só ocorre se for comprovada uma fraude, dentro das regras do MED 2.0.
MED 2.0 traz avanços para o usuário e desafios para os bancos?
Sim, o MED 2.0 traz avanços para o usuário e desafios para os bancos.
De um lado, o novo botão de contestação traz mais autonomia e agilidade ao processo, representando um avanço importante para os usuários.
Com poucos cliques, é possível solicitar o bloqueio e a análise de uma transação suspeita diretamente pelo aplicativo do banco, sem precisar de atendimento telefônico. Esse recurso reforça a sensação de segurança e o controle do consumidor sobre suas movimentações.
Como o MED se tornou um autoatendimento, o volume de contestações tende a crescer. Por isso, lojas e provedores de serviços de pagamento (PSPs) devem revisar fluxos, definir prazos de resposta e manter provas robustas — como notas fiscais, comprovantes de entrega e registros de antifraude — para afastar alegações indevidas.
Bancos também terão de aprimorar seus filtros e comunicações. Grandes instituições financeiras já têm adotado iniciativas próprias, como alertas que notificam o cliente ao tentar fazer um Pix durante uma ligação — um dos cenários mais comuns de engenharia social.
O possível aumento nas contestações significa, apenas, que o volume de análises vai aumentar, exigindo mais estrutura das instituições financeiras — mas não quer dizer que todos os valores serão devolvidos para as pessoas que abrirem a constatação (as possíveis vítimas, no caso).
O que o lojista precisa saber?
Para o lojista, o novo botão de contestação não altera a rotina das operações, já que as instituições financeiras continuam responsáveis por gerenciar e investigar as solicitações, conforme as regras do Banco Central.
Na prática, o MED só é acionado em casos de fraude comprovada. Ou seja, se o banco identificar que a conta do lojista não é fraudulenta, o valor não será bloqueado e o processo se encerra ainda na etapa de análise preliminar.
Mesmo assim, é importante manter boas práticas operacionais para reduzir o risco de contestações indevidas e responder com agilidade quando houver suspeita legítima. O primeiro passo é reforçar o antifraude no checkout, com validação de identidade, análise de risco por comportamento e bloqueios baseados em listas específicas para Pix.
Também vale organizar um dossiê automático por pedido, reunindo nota fiscal, comprovante logístico, registros de atendimento e dados do IP ou dispositivo utilizado. Essa documentação acelera a resposta dentro da janela de sete dias prevista para análise das contestações.
Além disso, contar com parceiros de pagamento confiáveis também faz diferença. A PagBrasil alia tecnologia e profundo conhecimento regulatório para garantir que seus clientes operem com total segurança.
Conclusão
A chegada do botão de contestação marca mais um passo na evolução do Pix — não apenas como método de pagamento, mas como um sistema cada vez mais confiável, transparente e preparado para lidar com os desafios de um ambiente digital em constante mudança.
Com o MED 2.0, o Banco Central reforça sua atuação em prol da segurança e da educação financeira, enquanto empresas como a PagBrasil seguem comprometidas em traduzir essas inovações em soluções simples, seguras e eficientes para lojistas e consumidores.
No fim das contas, o avanço do Pix é o avanço de todo o ecossistema financeiro brasileiro — e reforça a confiança de que inovação e segurança podem, sim, caminhar juntas.
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